abril 22, 2013 | Nenhum Comentário |
(*) Por Antônio Coquito
Em que condições você quer deixar a realidade socioambiental para os seus filhos e netos? Na sua agenda está em destaque o consumo consciente e responsável? O seu cotidiano incorpora preocupações com a poluição, o efeito estufa e a camada de ozônio? O que você consome na rua, joga a embalagem no lugar correto? O destino do lixo de sua casa e do seu trabalho segue padrões da coleta seletiva? A sua empresa incorpora práticas de responsabilidade e cidadania socioambiental? Na ação de governo em sua cidade, Estado ou no país, você percebe, sugere e participa da formulação de políticas públicas de respeito e preservação do meio ambiente e defesa de direitos? Enfim, você se sente co-responsável pelos problemas e desafios locais e de toda a sociedade? Você reflete na terra como patrimônio de todos nós?
Bom, para começo de conversa; se a todas as questões anteriores você diz sim, então está atento à nova consciência que tem movimentado a forma de gerir os negócios, o posicionamento de organizações sociais e os tratados de governos: o desenvolvimento sustentável. Trata-se de um modelo de progresso pautado na evolução gerencial de empresas e governos; mas, também nas atitudes individuais e coletivas, comprometidas com transformações socialmente responsáveis. Estas contribuindo para respeito ao meio ambiente, sua biodiversidade; equilibrando toda a ordem dos aspectos sociais e econômicos. Uma atitude de cuidado com o planeta e seu destino.
O mundo tem refletido a necessidade de uma postura diferente diante da condução dos rumos de nossa casa maior, a terra. Esta preocupação vem acompanhada de uma convocação para jeitos diferentes de ser e de fazer de todos nós. Somos provocados a agir no cotidiano, atentos ao que está diante de nós, nos posicionarmos como cidadãos ativos e propositivos. E assim, mudanças são incorporadas nos planejamentos estratégicos empresariais, nos planos e intervenções governamentais, crescendo a consciência pelo consumo responsável e ecologicamente correto. A sustentabilidade tem diversos desafios, eixos que nos conduzem a um mesmo propósito: sermos cuidadores planetários.
Atentar para o planeta que temos, e o que queremos; com ele, nossa co-responsabilidade para deixá-lo em condições saudáveis. Este é o alerta foi dado pelo conjunto de estudos científicos e programas da Organização das Nações Unidas – ONU. Cito; “Nosso Futuro”, “Agenda21”, “Objetivos do Milênio”, “Protocolo de Quito” e “Painel Internacional de Mudanças Climáticas – IPCC”. Neste último, o IPCC adverte no relatório III que todos (entidades, empresas, governos e pessoas) somos chamados a fazer nossa parte por uma nova terra.
A convocação da ONU, através da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, é explicita em seus objetivos e intenções. Esta comissão define a primícia de que o modelo socioeconômico sustentável seja capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as gerações futuras; não esgotando os recursos. Esta constatação desenvolvimentista esbarra em um mundo de comportamento, muitas vezes, inconseqüente; ou seja, que consome, destrói e polui sem se importar com os rastros de devastação. É sinal claro da necessidade de mudar o foco exclusivamente do lucro a qualquer custo, onde o desenvolvimento econômico desconsidera seu poder de impacto e as co-relações advindas, para um pensar produtivo que integra, também, a atenção com o ambiental e o social.
Falando do ambiente sustentável e de seus desafios, não podemos ignorar a interconexão de dois temas que falam direto à urgência da conjuntura pautada no desenvolvimento equilibrado. A comunidade científica internacional aponta como incompatível, a harmonia desejada com o cenário de vulnerabilidade social. Esta configurada nos altos índices de pobreza e, por outro lado, ainda, um descuido generalizado com os recursos e riquezas ambientais.
Para se ter uma idéia; somos cerca de sete bilhões de habitantes do mesmo território- a terra, uma verdadeira teia unida em causas e conseqüências. Portanto, também capaz de apontar soluções! Não dá para conviver ignorando contextos públicos, resultado das relações sociopolíticas e econômicas estabelecidas. A realidade diante de nós está a nos provocar; precisamos ter ações concretas. O mundo está gerando uma radiografia muito perversa, ou seja, três bilhões de pessoas estão vivendo abaixo da linha de pobreza. Isto significa; ausência de saneamento básico, moradias em locais inadequados, carência de participação cidadã, dentre outros. São prejuízos de ordem social inclusiva; uma necessidade do despertar do conjunto social para o entendimento de que a negação, em forma de exclusão que afeta a todos, adia o desenvolvimento sustentável.
Se não bastassem as condições de miserabilidade; os dados da ONU falam que no cenário ambiental destruímos 70% (setenta por cento) da vegetação original. Indo além, unindo meio ambiente degradado e condições de miséria, interferimos nos rumos e custos da saúde pública. A conseqüência no aumento da produção de gases como dióxido de carbono ou CO2, etano, óxido nitroso, dentre outros, que tem efeito danoso a vida humana e do planeta. Destes, vemos aparecer doenças antes não percebidas e o ressurgimento de outras que já estavam extintas ou controladas. Numa conjuntura global, presenciamos situação de saúde que assusta países ricos e pobres, bairros nobres e de periferia. Esta que afeta a todos, num retrato de epidemias que por descuido de todos e irresponsabilidade coletiva, trazem o risco de sermos afligidos por pandemias.
No Brasil, o convite à consciência sustentável se apóia no relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – o PNDU. Segundo o documento, 46,9% da renda nacional concentram-se nas mãos dos 10% mais ricos. Já os 10% mais pobres ficam com apenas 0,7% da renda. E não para por ai, o sinal vermelho de alerta ambiental chama a atenção; já tivemos 1 milhão de km² de florestas costeiras. Hoje, dispomos de apenas 10% desse total.
Reforçando a constatação do PNUD, o Banco Mundial (Bird) analisa, através do relatório denominado “Onde está a riqueza das nações?”, também, as variáveis sociais e ambientais necessárias para o desenvolvimento sustentável. No documento, o BIRD fala da necessidade de confluência no Produto Interno Bruto – PIB, os recursos naturais e os bens intangíveis. Estes últimos formados por acesso à educação, saúde, eficiência do sistema judiciário, qualificação de mão-de-obra, emigrantes e crescimento populacional apontados como os mais significativos no relatório. Já no quesito ambiental são avaliados os recursos minerais, madeira, pastagens, áreas de cultivo e ritmo de esgotamento dos recursos naturais.
A situação brasileira, segundo dados do relatório do BIRD, está em condições piores do que a dos nossos vizinhos Argentina e Uruguai. A conjuntura brasileira tem adiado e deixado frágil a cidadania. Portanto, o não conhecimento e, conseqüente, não utilização dos equipamentos sociais e públicos por parte do todo da população; ao mesmo tempo, vimos o estrangulamento do potencial ecológico. O relatório do Banco aponta como solução sustentável a transferência de investimentos de uma área para a outra, equilibrando o déficit de sustentabilidade, ou seja, se temos potencial numa determinada área, que esta financie e promova o avançar de outra. Um exemplo sugerido no relatório é capitanear e concentrar recursos para áreas como educação, tratamentos de saúde, acesso à moradia etc. Isto significa encontrar caminhos para sanar, dar respostas rápidas e ágeis ao que emperra a sustentabilidade em suas interconexões e amplitude.
Governos, empresas e organizações não governamentais – ONGs estão consolidando uma rede de diálogo, uma rede onde atentam para o debate e compromisso socioambiental de atenção ao contexto planetário. Essa se fortalece no apoio e intervenção direta ou indireta, através de programas, projetos e ações para redução da vulnerabilidade social. Uma atitude séria, de responsabilidade do que temos com o que seremos. Então, pensar em sustentabilidade é comprometer-se com a cidadania local que extrapole para uma preocupação com o todo diante de nós, uma atitude que é incorporada às práticas de indivíduos e empresas.
O chamado está colocado, uma sociedade sustentável se fundamentada em três pontos que se interconectam; o desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente e a consciência de justiça social. Destes, devemos ter a clara compreensão para que nossos acordos e decisões, e os que são feitos em nome da humanidade superarem a condição de papel. Neste sentido, ampliarmos nossa compreensão para um compromisso com o que está diante de nós, e com o que mesmo distante, interfere na forma como vivemos. E muito mais, entender que somos responsáveis diretos; pessoas físicas e jurídicas, no local onde atuamos. Contribuindo assim pela gestão do planeta para nós e as gerações futuras.
(*) Antônio Coquito é jornalista profissional e assessor de comunicação do INSEA
A dedicação e empenho dessas instituições, tornaram possíveis a produção e continuidade dos projetos desenvolvidos pelo INSEA.