Seminário de Rotas Tecnológicas da Reciclagem é marcado por intercâmbio de experiências

Posted by:Márcio Martins

O Seminário de Rotas Tecnológicas para a promoção da Reciclagem já se consolidou como um importante encontro para se tratar de assuntos relacionados ao tratamento dos resíduos sólidos urbanos e novas tecnologias que impactam no meio ambiente. Nesta quarta edição do evento, que aconteceu nos dias 13 e 14 de setembro no auditório de engenharia da UFMG, especialistas de diferentes países falaram para cerca de 300 participantes, dentre catadores, pesquisadores, acadêmicos, técnicos e dirigentes do terceiro setor e da iniciativa privada, entidades de apoio e gestores públicos.

O catador Gilberto Chagas, representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), deu as boas vindas aos participantes e ressaltou a importância do encontro para o avanço da reciclagem inclusiva nos diferentes municípios e a valorização da participação dos catadores nos processos que tratam sobre a questão dos resíduos sólidos.

O Diretor do Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (Insea), Luciano Marcos, também saudou os presentes e lembrou dos 15 anos de luta do MNCR e do Insea. “O Insea e o MNCR são irmãos de caminhada e frutos de uma mesma semente”, ressaltou. Este ano as duas instituições completam 15 anos de existência.

O primeiro palestrante da quarta edição foi o Professor Christian du Tertre, que é professor de economia no LADYSS – Laboratoire Dynamiques Sociales et recomposition des Espaces da Universidade Diderot – Paris VIII e Diretor-Técnico do Laboratoire d’Intervention et de Recherche ATEMIS. Christian é um dos iniciadores da economia da funcionalidade na França.

O francês falou sobre os pilares da economia da funcionalidade e suas estratégias frente a um modelo de desenvolvimento territorial e global em transição. “Quando vamos discutir sobre avanços tecnológicos, temos que pensar nas pessoas. Um dos problemas que gostaria de alertar é que os problemas que temos antes das questões tecnológicas são problemas sociais. Não podemos pensar somente nas questões tecnológicas sem levar em conta as pessoas”, disse Christian.

O professor também falou sobre o atual modelo consumista que a nossa sociedade vive, que é fundado com base nas invenções tecnológicas. Ainda segundo Christian, os trabalhadores estão cada vez mais alienados graças a essa lógica econômica contemporânea.

Ao falar sobre os catadores, Christian destacou a importância dos trabalhadores da reciclagem atuarem cada vez mais próximos das comunidades. Desta forma desenvolver junto à população novos serviços e tecnologias sociais que só podem ser criadas agindo em conjunto e buscando essa inovação dos serviços.

Jacqueline Rutkowski, Diretora do Centro Mineiro de Referência em Resíduos (CMRR) e pesquisadora pelo Observatório da Reciclagem Inclusiva (ORIS), organização realizadora do Seminário de Rotas Tecnológicas, falou sobre a construção de estratégias para o desenvolvimento da economia circular construindo uma política de economia circular na cadeia de resíduos para Minas Gerais.

“O lixo é hoje o maior problema ambiental dos centros urbanos. A gente põe o lixo na porta e achamos que está resolvido aquele problema, mas é importante lembrar que não existe o fora. Tudo está dentro do nosso planeta”, ressaltou Rutkowski. A pesquisadora lembrou aos participantes que cerca de 80% do que descartamos em nosso lixo, pode ser reaproveitado. “Se reciclamos economizamos energia! Mais do que qualquer outra forma de economia. Além disso, a reciclagem gera cerca de 2 milhões de empregos formais no mundo, isso sem falar da reciclagem solidária”, completou.

Segundo dados apresentados pela diretora do CMRR, a cada trimestre as associações e cooperativas de catadores retiram do “lixo” gerado em Minas Gerais cerca de 12 mil toneladas de materiais recicláveis. Jacqueline finalizou a sua apresentação com a frase do físico Albert Einstein, “Para mudar é preciso fazer diferente”.

Também participou da mesma mesa de debate o Professor Daniel Castro – CEFET-MG, e contou com a mediação da Diretora da Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Flávia Mourão.

O professor Daniel Castro falou sobre Reciclagem Automotiva na América Latina. Daniel trouxe alguns dados interessante que chamaram a atenção dos participantes para uma indústria que gera um grande nível de resíduos em todo o mundo. A capacidade anual de produção de novos automóveis no mundo é de 100 milhões por ano. Segundo o professor, atualmente a China é o país que mais fabrica automóveis, chegando a 24 milhões de novos veículos por ano. “Cerca de 80% de um veículo é feito com materiais que podem ser reciclados. Mas o valor de mercado desses materiais é muito baixo, o que desvaloriza o serviço de reciclagem automotiva, tornando a revenda das peças uma solução mais viável, economicamente falando”, disse.

O catador da cidade de Poços de Caldas-MG, José Alves, participou ativamente do seminário. Levando questões relevantes para os debates e confrontando as informações passadas pelos palestrantes com a realidade vivida pelos catadores nas associações e cooperativas. “Eu vim para esse encontro porque acho muito importante a gente buscar novos conhecimentos. Há uns 20 anos, o catador era visto como mendigo e catador de lixo. Hoje é possível perceber um respeito maior à nossa classe trabalhadora. Hoje um catador é capaz de pegar um panfleto e ir até a casa de um cidadão para fazer uma mobilização da coleta seletiva. Esses dois dias foram de muito crescimento. Estou levando muito conhecimento para colocar em prática em meu município”, disse o catador, que é membro da cooperativa Coopersul.

O assessor especial da Secretaria de Governo de Minas Gerais, Fernando Tadeu David, mediou a mesa de debates “Estratégias inclusivas e financiamento para o desenvolvimento de valores na cadeia da reciclagem. Tarefas, oportunidades, desafios e inovação na América Latina e Caribe”.

Os convidados para esse momento foram: Ricardo Valencia – Diretor Estratégico da Iniciativa Regional para a Reciclagem Inclusiva – IRR América Latina e Caribe; Geovane Martins Ferreira – da Gerência de Assessoramento Técnico da Fundação Banco do Brasil – FBB Brasília-DF;
Alexandre Alves – Diretor de Inseed Investimentos – Conselheiro do Instituto de Pesquisa em Meio Ambiente (IPE) e Arnaldo Clemente – Consultor da Redesol.

O Assessor Técnico da FBB, patrocinadora do 4º Seminário de Rotas Tecnológicas, deu boas vindas aos participantes falou sobre os investimentos que o Banco do Brasil vem fazendo em novos projetos que visam o avanço social e econômico em diferentes partes do Brasil. Geovane Martins também apresentou para os participantes um panorama do Cataforte, principal programa do Governo Federal subsidiado pelo BB desde o ano de 2002.

Outras duas importantes mesas de debates foram montadas no segundo dia do seminário de Rotas Tecnológicas. Anna Romanelli da Fundación Avina e do ORIS, mediou a primeira que teve como tema central: “A inovação como estratégia de desenvolvimento: negócios sociais na cadeia de resíduos”. Os convidados para esse momento foram: Valdemar de Oliveira Neto – Diretor executivo da WTT (World-Transforming Technologies); Ricardo Valencia – Diretor Estratégico da Iniciativa Regional para a Reciclagem Inclusiva – IRR América Latina e Caribe; e Diana Rodriguez – Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID.

O colombiano Ricardo Valencia destacou a importância do Brasil e do MNCR no cenário da reciclagem na América Latina. “Antes os catadores estavam condenados a viver na informalidade. Graças à organização que o MNCR buscou aqui no Brasil foi possível mudar as relações entre os catadores, governo e a população”, destaca Ricardo. “Não existiria uma Política Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil se não fosse o trabalho do MNCR”, completou.

A representante do BID mostrou quatro eixos estratégicos e os principais objetivos da iniciativa regional para reciclagem inclusiva na América Latina, sendo eles: melhorar a situação socioeconômica dos catadores; fortalecer o papel do setor privado e a integração da cadeia de valor; e promover a criação das políticas públicas com a inclusão dos catadores.

Valdemar de Oliveira Neto, conhecido pelos catadores como Maneto, começou falando sobre os desafios de inovação que ele enxerga para o MNCR. “Vejo alguns desafios para o Movimento dos Catadores. Dentre eles, como estão capacitando e gerando as novas lideranças políticas no MNCR e nas cooperativas? Outra questão é que o MNCR precisa pensar novas formas de mobilização e ocupar os novos espaços para não perder a voz que passou a ter no Brasil”, ressaltou Maneto. O Diretor executivo da WTT também ressaltou a importância dos catadores caminharem ao lado do mundo da ciência, para que os criadores das novas tecnologias possam criar colocando os catadores como atores nas inovações.

O catador Gilberto Chagas aproveitou o momento de fala para lembrar da importância da Fundação Avina, instituição que visa o desenvolvimento sustentável da América Latina. Segundo Gilberto a Avina desempenhou importante papel apoiando a organização institucional do MNCR em seu momento de criação.

Para fechar a quarta edição do Seminário de Rotas Tecnológicas da Reciclagem, foi formada uma mesa de debate que contou com a participação de Paula Guerra – Ministério do Meio Ambiente do Equador e Osvaldo Nuñez – Universidade de Guantánamo – Cuba. A mesa foi mediada pelo consultor especialista em resíduos sólidos, José Cláudio Junqueira.

A equatoriana Paula Guerra falou sobre o tema “Políticas Públicas e Reciclagem Inclusiva no Equador – Desafios e Oportunidades”. Paula mostrou alguns dados de seu país. Formado por cerca de 16 milhões de habitantes distribuídos em 221 municípios. A produção de lixo está em mais de 4 toneladas por ano, sendo que 60% do resíduo é orgânico e 25% potencialmente recicláveis. Atualmente 24% dos 221 municípios possuem coleta seletiva com separação do resíduo na fonte.

“Estes espaços de diálogos e de intercâmbio de experiências são fundamentais para a evolução do processo da Reciclagem Inclusiva na América Latina. Sabemos que não há nenhuma receita escrita de como fazer. O que estamos fazendo é compartilhando experiências semelhantes para adaptarmos as diferentes realidades”, destacou Paula Guerra.

O professor cubano, Osvaldo Nuñez, falou sobre a reciclagem e inovação social em seu país. Apresentou para os participantes do seminário slides com o tema: “Uma resposta ao bloqueio econômico dos Estados Unidos”. Osvaldo apresentou os avanços que Cuba conquistou desde o ano de 1959, após a tomada de governo, liderada por Fidel Castro, que ficou conhecida como Revolução Cubana.

Com mais de 11 milhões de habitantes, o país investiu durante anos em políticas públicas e na produção e inovação produzidas na própria nação. Segundo os dados apresentados pelo professor, hoje Cuba possui um excelente sistemas de saúde, de educação (sendo o primeiro país da América Latina a ficar livre do analfabetismo) e a criação de relevantes políticas públicas consolidadas.

Em Cuba a atividade de gestão de resíduos é realizada pela União de Empresas de Recuperação de Matérias Primas, que pertence ao Ministério da Indústria. A UERMP foi criada em 1961 pelo então Ministro das Indústrias, Ernesto Che Guevara. O sistema de recuperação envolve mais de 3 mil empresas estatais e instituições sociais do país.

“Esse encontro é muito importante por proporcionar a troca de experiências entre os diferentes países da América Latina. Fortalecendo então as atividades de reciclagem em todo o mundo”, ressaltou Osvaldo.

O Seminário de Rotas Tecnológicas da Reciclagem é uma realização do Observatório da Reciclagem Inclusiva, ORIS, que é formado pelas seguintes instituições: MNCR, INSEA, Instituto Sustentar, UFMG, WIEGO, Fluxus Laboratório, ANCAT, AVINA, Fundação Banco do Brasil, Nossa BH E Grupo Parangolé.  E contou com as intervenções artísticas do Coletivo Mundicá.

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