setembro 19, 2014 | Nenhum Comentário |
“Estamos vivendo neste planeta como se tivéssemos outro para viver depois”, alertou o conferencista Paul Connett no segundo Seminário Nacional de Rotas Tecnológicas para a Gestão de Resíduos com a Reciclagem Popular, que aconteceu no seminário da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Cerca de 400 pessoas, entre catadores de materiais recicláveis, técnicos de prefeituras, gestores, acadêmicos e estudantes, participaram dos dois dias de evento.
Uma empolgante e renovadora exposição com o título “Os Erros e Sucessos da Gestão de Resíduos Sólidos no Mundo na Construção de uma Sociedade Sustentável” foi feita pelo PhD e Professor Emérito de Química Ambiental da Universidade de St. Lawrence, em Canton, Nova Yorque e Diretor-executivo do Projeto Norte–Americano de Estudos sobre Saúde Ambiental, Paul Connett.
O conferencista, que já levou seus conhecimentos pessoalmente a mais de 60 países, mostrou aos participantes que é possível mudar os hábitos da população e conviver em uma sociedade que respeite o meio ambiente dando um tratamento adequado ao resíduo que produz. Segundo o professor, o primeiro pensamento parte da vontade de mudar a sua própria comunidade para depois mudar a cidade. Começar uma mudança de forma local. “Podemos ser parte de uma mudança significativa para o planeta. Cada tonelada que deixamos de aterrar damos mais um passo na direção certa”, disse Connett.
O professor trouxe exemplos de cidades como São Francisco/EUA (com mais de 800 mil habitantes), que tem como meta até 2020 reaproveitar 100% dos resíduos gerados. Outro exemplo dado foi a cidade de Salerno/Itália (com mais de 140 mil habitantes) que em pouco tempo conseguiu aumentar o índice de reciclagem para 75%. Segundo Connett, cada uma dessas cidades adotou uma estratégia própria que atendesse às características da própria cidade, dentro da proposta do programa Lixo Zero.
Os principais pontos colocados pelo conferencista para obter bons resultados na gestão dos resíduos sólidos foram: uma triagem de qualidade, coleta seletiva porta a porta, realizar a compostagem com os resíduos orgânicos, reciclar, reaproveitar tudo que for reutilizável, reduzir a produção dos resíduos, criar incentivos e taxas para os geradores de resíduos, instalar estações de triagem nos aterros sanitários, realizar estudos e acompanhamento em todo o processo, realizar um bom designe industrial e contar com um aterro ideal.
“Se não produzirmos um mundo sustentável, no final deste século vamos estar em uma péssima situação”, disse Connett que demonstrou otimismo com a situação no Brasil. “Estou bastante animado com o que estou vendo que está sendo feito por vocês. Vou levar isso comigo para o mundo”, afirmou ao final da palestra.
Além do norte-americano, também participaram do evento os convidados internacionais: a holandesa Anne Scheinberg, pesquisadora da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que falou sobre Reciclagem Sustentável e Inclusiva na Modernização dos Sistemas de Gestão de Resíduos, e o inglês David Lerpenire formado em Ciências da Terra na Universidade de Oxford, ambientalista, mestre em Gestão Ambiental e doutorando da Universidade de Leeds/Reino Unido, que expôs sobre Gestão de Resíduos e Mudanças Climáticas – Implicações e Oportunidades.
Além dos conferencistas internacionais, também participaram das exposições e das rodas de debates, acadêmicos do Observatório da Reciclagem Inclusiva e Solidária (ORIS), catadores representantes do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), gestores públicos e representantes de instituições ligadas às questões ambientais e a gestão dos resíduos sólidos.
O catador Gilberto Chagas, representando o MNCR, falou aos presentes sobre a ameaça da incineração dos resíduos sólidos, que vem rondando as diferentes cidades do Brasil. “A incineração é um contrassenso a uma luta mundial. Queimar material reciclável é uma ‘burrice’. Estamos lutando em Minas Gerais para a sanção do Projeto de Lei 4.051/2013 que proíbe a incineração em nosso Estado. Mas infelizmente o atual governador, Alberto Pinto Coelho, vetou o PL. Mas estamos pressionando os deputados estaduais para que derrubem este veto”, disse Gilberto.
O segundo Seminário Nacional de Rotas Tecnológicas para a Gestão de Resíduos com a Reciclagem Popular foi uma realização do ORIS (formado pelas instituições Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável, Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, Instituto Sustentar, Centro Nacional dos Direitos Humanos da População de Rua e Catadores de Materiais Recicláveis, WIEGO – Mulheres no Emprego Informal: Globalizando e Organizando, UFMG e Banco do Brasil).
A dedicação e empenho dessas instituições, tornaram possíveis a produção e continuidade dos projetos desenvolvidos pelo INSEA.